Jorge Guerra Pires
Os algoritmos das redes são otimizados para otimizar conversas não-produtivas
Esse foi um comentário descontraído que fiz, algo espontâneo. Contudo, teve um alcance que não consigo explicar. Não foi a primeira vez que vejo padrão similar, contudo, em assuntos diferentes. Nesse caso, participei de cada comentário, claro, tive de bloquear algumas pessoas! Foi até interessante, mas bem desgastante lidar com os ataques.
A pesquisadora Monica de Bolle recentemente anunciou afastamento do Twitter: parece que vai somente postar, não vai mais interagir. A gota de água se entendi bem:
Uma brincadeira com o chatGPT, que gerou ataques sem limites.
Ao Roda Vida, a ganhadora no Nobel da Paz, Maria Ressa, destaca que sofreu muitos ataques online, e esse ataque vira ataque real, com ameaças a vida.
Poderia ir citando exemplos sem fim, mas vou parar. Deixo-o com o livro da Campos Mello : "a máquina do ódio".
Em geral, as redes escapam de serem responsabilizadas, (accountability, usando termo de Ressa) devido ao fato que não se definem como meio de comunicação tradicional. Tarleton Gillespie em Custodians of the Internet aponta isso como a parte mais complicada de obrigar as redes em moderar conteúdo. Mesmo quando moderam, não respeitam regras que protegem pessoas físicas.
Quando comecei a usar as redes, de forma tardia, comecei no YouTube. Lembro que postei minha preferência pela Legião Urbana, e fui atacado por uma fã do Ira. Tentei falar como uma pessoa educada, mas fiquei assustado com a agressividade da pessoas. Nesse ponto, logo concluir:
A liberdade das redes é uma farsa.
Como podemos falar de liberdade se pessoas te atacam quando se expressa?
Essa ideia, aparentemente no novo dono do Twitter, de que discussões não precisam de moderação, é falha: não se constrói ideias maduras "no tapa". Eu sou de uma família simples, onde tudo se ganha do grito: posso te garantir, nada sai de interessante desse modelo de conversa. Precisamos pensar uma forma de unir o alcance das redes com o respeito à vida, ao intelecto de pessoas que já se provaram em termos intelectuais.
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